Leila Regina dos Santos Silva é uma canoense que viveu quase toda sua jovem vida em Viamão e construiu uma trajetória de luta digna de filme engajado: foi mãe adolescente, trabalhou em três turnos para se manter, entrou na universidade junto com o filho, foi mãe temporona (de novo) e, entre um piti de adolescente e um choramingo de bebê, formou-se em Gestão Comercial e tornou-se mestre em Gestão Estratégica de Pessoas e Negócios, driblando as dificuldades, em plena pandemia.
Nesta trajetória, em 7 anos de estudos complexos e trabalho árduo, viajou a trabalho, pelo interior do Rio Grande do Sul e por algumas cidades do Brasil, gastou noites de insônia atendendo um filho gênio, que entrou na universidade federal pela porta da frente, por mérito, em primeira chamada e se encaminha para se tornar uma celebridade internacional, além de, na última fase do seu mestrado, se dividir nas funções de amamentar, assistir, trabalhar e, como sobrava vontade mesmo faltando tempo, construiu uma empresa partindo da sua coragem e dos sonhos de seus sócios.
Agora Mestre Leila Regina, continua buscando desafios e logo, logo, poderá compartilhar seus conhecimentos nas salas de aula da Escola Básica de Hospitalidade. “as imperfeições me fizeram ter vontade de continuar aprendendo e evoluindo”. Esta máxima será seu lead para convencer seus alunos a evoluir, sugerindo que eles esqueçam que existem dificuldades pela frente, aconselha que “sonhar acordado é melhor que dormir sem sonhar” e sem a chance de acordar uma pessoa melhor no dia seguinte.
Confira: 5 perguntas para Leila Regina, Mestre em Gestão Estratégica de Pessoas e Negócios pela QI University:
Ser “mãe precoce” valeu a pena?
Hoje, digo com toda certeza que valeu a pena. Na primeira gestação aprendi a ter a responsabilidade que a juventude não me cobrava. Não foi nada fácil. Mãe solo aos 17 anos, recém formada no ensino fundamental, enfrentei muitos desafios. Mas a vontade de estudar sempre me acompanhava. Iniciei no ensino médio e logo consegui um estágio, ganhando o mínimo para manter meu filho e comendo muito miojo com salsicha, porque trabalhava em turno integral, mas estagiário não ganhava vale. Concluí os três anos de estudos e ingressei no mercado de trabalho como CLT, tive poucos empregos, não sei se isso foi bom ou ruim, mas naquela época diziam que “sujar a carteira” trocando de emprego seguido não era bom. Esse pensamento me fez trabalhar em até 3 empregos ao mesmo tempo, que pagavam pouco, para poder ter o mínimo. E assim foi por bastante tempo. Na segunda gestação, 20 anos depois, com mais maturidade, aprendi a aproveitar a maternidade, coisa que a juventude não me permitiu. Mesmo assim, nunca foi fácil.
Foi fácil entrar na universidade?
Foi mais fácil do que eu podia imaginar. Depois de concluir o ensino médio, julgava que a universidade seria algo muito distante da minha realidade. Me julgando como uma pessoa de inteligência mediana, não inteligente suficiente para entrar numa federal e sem capacidade financeira para bancar uma universidade particular. Até que um colega de trabalho em meados de 2013 me disse uma frase que se tornou um divisor de águas pra mim “Hoje em dia, só não estuda quem não quer”, referindo-se ao FIES . Eu absorvi aquela frase como sendo um desafio e, como questão de honra decidi tentar. Em 3 meses estava matriculada na faculdade QI, no Curso Superior de Gestão Comercial. Foi uma das melhores fases da minha vida. Muita luta, dedicação e vontade de chegar lá, até que 3 anos e meio depois, enfim me formei. E também ali, me tornava a primeira graduada da família. E, lembra que subestimava minha inteligência?! Pois então, no dia da formatura recebi uma das melhores surpresas e honraria sonhada por todo estudante universitário: a Láurea Acadêmica, como melhor aluna do curso de Gestão Comercial naquele período. Jamais esperei tal reconhecimento e foi esta Láurea que me possibilitou ingressar no curso de Pós Graduação que iniciei logo após a formatura.
Como funciona a cabeça de uma pessoa que entra na universidade junto com o filho?
Pois bem, posso dizer que entrei junto com meus 2 filhos. O mais velho, Richard, para minha felicidade, conseguiu romper todos os padrões e limitações do ensino público e aos 17 anos, em primeira chamada entrou na UFRGS. E hoje segue sua jornada acadêmica lindamente. Eu iniciei a pós graduação com o Lucca na barriga. Parei por um período, depois retomei com ele no colo.
Como é conviver com desafios e transformá-los em aprendizado?
Acredito que os desafios são os que nos tornam mais fortes. Não romantizando as dificuldades, mas todos os desafios que enfrentei me tornaram a pessoa que sou hoje. Aprendi a ouvir mais, lidar com as adversidades, ter um olhar mais generoso com a diversidade, entendendo e respeitando as diferenças de cada indivíduo. Aprendi sobre a importância da inteligência emocional e a entender que todos nós estamos em constante transformação, seja ela pessoal, profissional ou emocional. E o mercado exige isso de todos nós. O processo de aprendizagem deve ser contínuo.
Como será seu futuro nas salas de aulas, agora como professora, as mesmas salas de aulas que te desafiaram a vida toda?
Hoje concluí mais uma importante etapa da minha vida. Mas não vou parar por aqui. Como havia dito, a aprendizagem é um processo contínuo, e o mundo muda constantemente. Mas, além de aprender, também quero me preparar para outros desafios dentro de meus negócios, dentre eles é compartilhar meu conhecimento, pois acredito que uma das melhores formas de aprender é ensinando. Outra meta de vida é, de alguma forma, servir de inspiração para outras pessoas. Penso que, de nada adianta o que fazemos se não pudermos transformar a realidade de alguém. Eu, como mulher preta e periférica, hoje posso dizer que sou a primeira graduada de uma família onde teve, inclusive, escravizados. Hoje estou mudando a minha realidade, construindo sonhos, morando em um lugar melhor e enxergando um futuro que a pouco tempo nem imaginava existir.
Por José Justo. Artigo original Fontdesk